quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Bons, neutros e maus espíritos

O mundo onde vive e age o xamã é completamente estranho ao homem civilizado. O xamã, de fato, vive em dois mundos: o ordinário, que nós vemos ao nosso redor, e o mundo das sombras, habitado por uma fantástica hierarquia de bons, neutros e maus espíritos. Na cosmologia xamanista esses dois mundos estão em constante interpenetração. Não existe uma divisão palpável. Os espíritos podem dissimular-se em seres humanos, e podem mesmo possuir um ser humano real (fenômeno conhecido pelos espíritas como obsessão). Neste último caso, a pessoa obsediada geralmente cai doente.
Por outro lado, segundo os xamanistas, espíritos podem existir em árvores, pedras, correntezas, ventos; qualquer objeto, ser ou fenômeno. Alguns podem pertencer a um determinado animal, objeto ou lugar. Outros são livres para se movimentar e agir...
É difícil transmitir ao homem civilizado, para quem a própria palavra espírito lembra superstição, o tipo de mundo onde vive o primitivo homem tribal. Para este, todas as coisas têm significado. O simples caminhar por uma trilha na floresta, a cor de uma pedra, a forma ou posição das folhas de uma árvore, a duração do canto de determinado pássaro, a direção e força do vento, as pegadas de certos animais.
O mundo do xamã é incrivelmente rico e ainda pouco explorado. A descoberta dos seus reais significados é tarefa dos antropólogos. Mas, por causa de seus preconceitos, muitos deles perderam a pista na pesquisa e deturparam a correta interpretação da experiência xamanística.
Texto publicado na Revista Planeta
Número 64 de Janeiro de 1978

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