segunda-feira, 11 de março de 2013

yoga-natureza
Mesmo quem nunca experimentou já ouviu falar nos benefícios obtidos pela prática da meditação. Além da calma e relaxamento, quem medita há muito tempo alcança um controle da mente que possibilita escapar a pensamentos obsessivos e negativos, no que poderíamos chamar de “transcendência”.
Com o objetivo de descobrir qual o segredo “fisiológico” por trás de tão boas sensações promovidas pela técnica, e motivados pela idéia de aproveitá-la como aliada em alguns tratamentos, os neurocientistas têm se debruçado cada vez mais nos estudos sobre a meditação.
O que a pesquisa nesta área mostra é que a meditação de fato diminui a ansiedade, a depressão, a raiva e a fadiga, e melhora a atenção. Os praticantes de meditação parecem ter maior habilidade em cultivar emoções positivas e de deter a instabilidade emocional, evitando pensamentos ruminantes que podem, por sua vez, aumentar a ansiedade e a depressão. Alguns estudos indicam até mesmo um fortalecimento do sistema imunológico.
Além do “domínio mental”, o controle da respiração é fundamental para a prática da meditação, e parece ser obtido pela ativação sistema nervoso parassimpático, o que produz sensação de relaxamento e de quiescência profunda. Esta calmaria parece ser reforçada pela redução da produção do cortisol, hormônio ligado ao estresse.
Outros hormônios que se mostram sensíveis à prática da meditação são a arginina vasopressina (AVP) e a beta-endorfina (Deshmuskh, 2006). O aumento da liberação de AVP tem sido associado à manutenção de um efeito positivo, com a diminuição da percepção da fadiga, e à facilitação da consolidação de novas memórias, enquanto se atribui ao aumento de beta-endorfina uma menor percepção de dor e medo, e sensações de alegria e euforia. Os níveis de serotonina parecem ser moderadamente afetados durante a meditação, sendo que o aumento deste neurotransmissor, que tem efeito sedativo e calmante, também se correlaciona com um efeito positivo da técnica – assim como acontece com os inibidores de recaptação de serotonina, que aumentam o tempo que a serotonina pode atuar produzindo seus efeitos e fazem parte do tratamento farmacológico da depressão. Ao que tudo indica, portanto, deve haver benefícios em combinar a meditação consciente e intervenções de terapia cognitiva no tratamento da depressão crônica ou recorrente em comparação com o tratamento convencional.
Dados reunidos por Deshmukh, num artigo de 2006, mostram ainda que áreas como hipocampo, lobo temporal e o córtex parietal estão mais ativas no cérebro de praticantes da meditação, em comparação com os não-praticantes, durante testes que avaliam a atenção.
Um estudo de Brefczynski-Lewis e colaboradores feito em 2007 com pessoas com que meditavam há mais horas, em comparação com indivíduos que meditavam há menos tempo e com aqueles que meditaram apenas uma semana antes dos testes comportamentais, indica que o tempo de prática também influencia nos resultados obtidos. Os praticantes em nível médio tiveram maior ativação das áreas que controlam a atenção do que os novatos. Já os experts tiveram menor ativação destas áreas, indicando uma menor necessidade de recrutamento das redes neuronais para manter o mesmo nível de atenção.
Quando desafiados com um som para distrair a atenção, os praticantes experientes, em relação aos novatos, tiveram menor ativação em áreas relacionadas ao pensamento discursivo e às emoções, e maior em regiões relacionadas à atenção e à inibição da resposta. Parece haver uma otimização dos circuitos neuronais, resultando num estado mental menos ativo cognitivamente, mais quieto.
Vale lembrar que estes benefícios não são atingidos “da noite para o dia”. O grupo de experts acumulava mais de 44.000 horas de meditação, o que equivale a mais ou menos 4 doutorados – 16 anos – com dedicação diária de 8 horas do seu dia. O grupo de expertise média, em comparação, teria em sua bagagem 3 “mestrados” em meditação, somando 19.000 horas de prática.
Dá trabalho. Mas, neste ponto, imagino que até os mais céticos estejam entoando o ommmmmm… (LSBP, maio 2009)
Fontes:
Deshmukh V (2006). Neuroscience of meditation. TSW Holistic Health & Medicine 1, 275-289.
Tang Y, Ma Y, Wang J, Fan Y, Feng S, Lu Q, Yu Q, Sui D, Rothbart M, Fan M e Posner M (2007)




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